
Por Gustavo Bressan/ Zootecnista
A Ferro e Fogo: A História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira, obra de Warren Dean no campo da história ambiental dá significância à interação homem floresta e narra a história da devastação da floresta tropical brasileira. Para Dean a chegada dos portugueses e o estabelecimento da cultura da cana de açúcar e da exploração do pau brasil resultaram na destruição ambiental de uma floresta de um milhão de quilômetros quadrados, hoje reduzida a pequenos fragmentos.
É com esse desdobramento trágico que traçamos um paralelo com nossa região. Embora a Mata Atlântica tenha sido quase completamente destruída o município de Una apresenta grandes extensões de florestas protegidas na forma de Unidades de Conservação como a Reserva Biológica de Una, Refúgio de Vida Silvestre de Una, reservas particulares, Reserva Extrativista de Canavieiras e Parque Nacional Serra das Lontras.
Em nosso município temos também uma relação mais harmoniosa do homem com a terra, que remonta desde a colonização de nosso município por volta de 1770 e que ao longo dos três últimos séculos viu sua paisagem ser transformada seja pela expansão da cacauicultura, comércio da madeira, pastagens ou por processos de colonização que caracterizaram nossa cultura rural. Os pequenos agricultores plantam agrofloresta, protegem as nascentes e os animais. Convivem de forma harmoniosa com a terra e garantem a biodiversidade local.
Ao mesmo tempo o município é muito avançado nas leis ambientais. O Capítulo do Meio Ambiente da Lei Orgânica Municipal e o Código Ambiental Municipal são leis que disciplinam as relações do homem com a natureza.
Mas estamos passando por transformações muito rápidas e que notadamente têm deixado cicatrizes profundas. Vemos áreas litorâneas serem destruídas por conta da especulação imobiliária, acessos a praias serem bloqueados com cancelas e cadeados ou hotéis de luxo, desmatamento avançado para dar lugar a novos cultivos, uso da água para fins industriais e agrícolas sem nenhum controle ambiental. Tudo isso agravado pela falta de políticas públicas e ambientais que garantam o uso e a perpetuação de nossas riquezas naturais.
É preciso reabrir o debate acerca da sustentabilidade ambiental em Una e cobrar das instâncias competentes que se cumpra a lei. É preocupante observar mais uma invasão em nossa região sem nenhum critério daqueles estabelecidos pelo nosso plano de desenvolvimento rural, feito pelo povo anos atrás. É preocupante ver a extinção de nascentes, de espécies animais e vegetais, da perda de grandes áreas de solo por processos erosivos, da diminuição drástica de florestas centenárias para dar lugar a novos cultivos agrícolas sem nenhum estudo prévio.
Nossa riqueza natural é nosso maior patrimônio e deve ser tratada como propulsora do desenvolvimento local e nossa riqueza social é essa população mestiça adaptada à floresta e suas relações harmônicas. Nosso maior risco é a falta de políticas públicas e suas intervenções mal orientadas e pouco eficientes.
“UNA NÃO É TERRA SEM LEI”
FONTE: UNA NEWS